domingo, 22 de novembro de 2009

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

esboço



tinha dentro de si um outro eu. austero, viril.
quando deixava a barba instalar-se como trepadeiras no rosto, ficava atenta para ouvi-lo. apontava-ma à cara a mão pequena com os cinco dedos esticados e, cada um deles, enumerava as desgraças que eu havia inflingido a alguns. convinha-lhe ser o bom da fita...
gabava-se, dizendo existir na sua conduta, unicamente honestidade e verdade, mas a verdade é que nela havia espaço para roubar sorrisos às donzelas do amigo e prometer apalpadelas no rabo das mesmas, às escondidas.
mas quem és tu, dom juan de meia tigela, que te pavoneias com tais virtudes e por trás enrabas o exmo amigo coitado?
esforçou-se na vida para entender tão bem as mulheres, que acabaria por desarmá-las através das poucas palavras que lhes dedicava. era o seu divertimento... a única forma de esquecer-se do facto de não conhecer-se a si mesmo.
decidiu ficar com aquela de quem menos gostava, mas a que mais o amava. aquela cujo final de luta era o mais previsível. prenúncio de cobardia que nele assentava tão bem...
no meio de toda a história, quem tem razão é o louco, que decifra essa "verdade" como a maior mentira de todas... com uma pinta, que todos incomoda. e eu sei. soube quando feito lobo quiseste papar a menina a quem apontavas o dedo. mas a menina, encheu-te a barriga de sapos e nem um beijo na boca te transformaria em príncipe encantado.