quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

um destino qualquer



de dia, escavava certezas num chão profundo e esbarrava-se contra sonhos à superfície.
ilusões que semeava sempre que o sentia.
viveu uma vida inteira com ele sem nunca o ter visto.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009



"não lhe pedi que viesse. pedi-lhe só que às dez da noite e pela última vez, a sua lembrança me esperasse ao caminho. Cheguei cedo e sentei-me. Quando soasse a hora, eu queria senti-la ao pé de mim, não bem no seu corpo, não bem nas suas palavras, mas apenas naquele sossego harmonioso que tornava o mundo perfeito...


apareceu tão leve como a sua lembrança.


... caminhei pela vereda branca, lavado numa pureza desconhecida, anterior à minha humanidade, e onde, no entanto, eu me sentia todo inteiro. Quando cheguei ao topo da colina, olhei ainda atrás a ausência dela. Mas lentamente, surpreso e todavia calmo, fui descobrindo-a em pessoa, em pé, no meio do caminho, vestida de lua, esperando decerto como eu que toda a serra e toda a aldeia e tudo o que nos fora prometido ficasse enfim tão diferente como quando ainda não tinhamos nascido."

Vergílio Ferreira

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

sei de um lugar


eras livre.
as únicas cordas que te amarravam a alma eram as da guitarra.
tinhas a alma livre.
o teu corpo passeava-se nas ruas, solto e fresco como o vento que agita suavemente as ondas do mar. sorrias para a vida e ela retribuia-te com dias amenos.
conheci a tua casa. uma rede entre dois troncos.
as árvores meio despidas de folhas e pequenas flores a colorir a copa. o teu tecto.
a rede, não tinha fundo. entrar nela, era o mesmo que entrar no infinito azul do céu.
sei que me levavas pela mão,
e a pele do teu corpo, o único caminho que decorei.


leva-me outra vez.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

nem tudo são cerejas...

...sei também que carrego um doce fado no sangue, herança de outras vozes e outros amores.
o meu avô sempre disse para se ter cuidado a partir a melancia... não se pode partir-lhe o "coração". tem que ficar inteiro. é a parte mais docinha...
e no fim olhava para nós com um leve sorriso que lhe subia o bigode... (era frase para esconder um segredo qualquer.shiuu).
nunca em nenhuma outra boca ouvi falar desta verdade, assim.
a parte engraçada era a de ver, no nosso pueril desejo, o meu avô falhar no corte e ver o coração despedaçar-se. mas não! engane-se quem duvida da perícia de um avô vivido. o meu é um verdadeiro escultor de melancias.
O coração... esse, ficava ali intacto à espera, absorvendo a doçura da nossa inocência...
bem sabia... fiquei sempre com a intuição a latejar em tom duvidoso, quando dizia que a cereja era a minha fruta preferida.

quando for grande, na hora H, que seja por alguém tão sábio quanto o meu avô, e que no fim ainda remata com um : é doce como mel...

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

reencontro

-olá!!! Já não me lembrava muito bem de ti...
mentira!
nunca me esqueci da inexpressão do teu rosto. Queria eu saber de ti e tinha que olhar-te nos olhos. Era lá que morava a luz do teu sorriso. a escuridão também, vizinha do teu dó maior.
"Estou diferente!?" não estou não, juro.
imagino-te a sentires como eu... refugiado em terras de sonho onde tudo é possível, tudo perfeito no caos das palavras e gestos soltos.
quero dizer-te que estás igual, e que de todos os lugares, o melhor para encontrar-te foi aquele onde estavas...
esqueci-me de te perguntar: em que prateleira estão os sopros e os arco-íris?

gostei de te ver. verdade!